10/09/2021 ás 14:56 por Cristiane Sathler

Tratamento do Desejo Sexual Hipoativo Feminino

Ao se pesquisar sobre tratamento, primeiramente é necessário pensar que a busca por tratamento, seja qual for o problema, tem o intuito de minimizar sofrimento e dor, e até mesmo aumentar a perspectiva de vida sendo a saúde o alvo principal. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), entende-se por saúde um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade.  

Quanto mais cedo o ciclo de resposta sexual é interrompido, mais difícil se torna o tratamento da disfunção sexual. Portanto, desordens da fase do desejo são geralmente mais difíceis de tratar do que distúrbios da fase de excitação, as quais por sua vez são mais difíceis de tratar do que a disfunção orgásmica. 

O tratamento de mulheres com queixa de desejo sexual hipoativo requer uma avaliação dos fatores etiológicos, considerando aspectos biológicos, psicológicos e contextuais da mulher, como mostra a Tabela 1.  

Tabela 1: Fatores etiológicos a serem avaliados no tratamento

                 de mulheres  com queixa de desejo sexual hipoativo

PredisponentesPrecipitantesMantenedores
BiológicosFatores endócrinos, distúrbio do ciclo menstrual, histórico de cirurgia e doenças, tratamentos com drogas que afetam os hormônios ou o ciclo menstrualAlteração do estado hormonal como resultado de menopausa, câncer, utilização de medicamentos ou drogas, condições médicas atuaisTratamento medicamentoso ou hormonal, desordens metabólicas / malignas,outras condições médicas crônicas
PsicológicosHistória sexual (pontos positivos e negativos), experiências indesejadas, abuso, estupro, violência, preocupação com a imagem corporal, traços de personalidade e temperamento (extrovertido vs. introvertido, inibição vs. excitação), papéis e responsabilidades profissionaisNível de satisfação com o relacionamento atual, distúrbios afetivos (ansiedade, depressão), perda de sentimentos de amor para com parceiro como um resultado de decepção ou  descoberta de um  caso extraconjugalAnsiedade, tensão, problemas de comunicação



Contextuais
Mensagens culturais / étnicas e religiosas, expectativas, restrições decorrentes do nível socioeconômico / acesso a atendimento médico e informação, rede de apoio socialDiscórdia no relacionamento, estressores como divórcio e separação, perda ou morte de amigos íntimos ou membros da família, dificuldades econômicas, preocupações.Mitos culturais

FONTE: Brotto L, et al. J Sex Med. 2010 7(1 Pt 2): 586-614

Devido a complexidade e multiplicidade de fatores envolvidos no diagnóstico de disfunção sexual, é recomendável que se faça uma avaliação, de preferência multidisciplinar, principalmente nos casos de origem primária, considerando os aspectos psicológicos e relacionais como, por exemplo: condições estressantes de vida, conflitos conjugais, mudança de parceiro e disfunção sexual do parceiro.    

Ao estabelecer um diagnóstico da disfunção sexual feminina é importante avaliar sua função sexual e também investigar as condições de saúde e função sexual do parceiro, pois este pode influenciar diretamente a vida e a sexualidade da mulher.     

Ainda não há uma padronização do diagnóstico e do tratamento das questões da disfunção sexual feminina, porém já existe um movimento de médicos e psicólogos especialistas, de estudiosos e pesquisadores da sexualidade humana para o refinamento e cuidado com esta avaliação da saúde da mulher. A recomendação do uso de questionários para a avaliação da função e da resposta sexual feminina é recente, porém, facilita a investigação da queixa e abrevia o bom diagnóstico e o tratamento.  

Novas estratégias terapêuticas para o combate do Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo estão sendo investigadas, incluindo métodos para a liberação de testosterona e outras drogas que atuem no sistema nervoso central (SNC). 

Muitos clientes/pacientes que sofrem de disfunção sexual sabem muito pouco sobre a anatomia e fisiologia da resposta sexual. Eles podem estar sendo mal informados sobre técnicas eficazes de estimulação sexual, sobre o papel do clitóris no orgasmo feminino ou a necessidade de mais estímulo físico. Terapeutas sexuais necessitam avaliar e complementar o conhecimento de seus clientes através da discussão, de livros didáticos ou até fitas de vídeo.

Uma das intervenções que os profissionais de saúde também podem fornecer é, simplesmente, um acolhimento mais responsivo e compreensivo, validando as necessidades sexuais de seus pacientes, bem como orientações a fim de dirimir os mitos e tabus, legitimando o prazer sexual. Em muitos casos, iniciar uma discussão sobre problemas sexuais já pode ser terapêutico. Este tem sido o novo desafio dos profissionais de saúde: introduzir o tema da sexualidade nos atendimentos e elaborar um diagnóstico que permita uma intervenção multidisciplinar de acordo com a singularidade de cada caso.   

Tratamento Médico

Apesar das disfunções sexuais femininas serem bastante conhecidas, deixam de ser devidamente diagnosticadas devido à falta de importância dada a sua queixa, tanto por inibição por parte das mulheres, quanto por constrangimento por parte dos médicos. 

A disfunção sexual pode ser um efeito colateral muito importante dos antidepressivos. Médicos e cuidadores, ao prescreverem de forma inadequada os medicamentos que afetam a sexualidade, sem identificarem os fatores que possibilitem precipitar ou manter a FSD, podem contribuir para as desordens sexuais da mulher e do casal.  

Infelizmente ainda é pequena a porcentagem de médicos que declaram ter recebido algum treinamento específico na área sexual em suas graduações, e consideram ser necessário ter um maior treinamento e consequentemente um melhor preparo. Porém, nos próximos 5 à 10 anos isso deve mudar e o conhecimento básico de medicina sexual será necessário para todos os médicos. 

Em se tratando de hormônios, a função terapêutica dos estrógenos na prevenção e tratamento da atrofia vaginal e dos andrógenos no desejo sexual está bem estabelecida, embora seja um tópico que não tenha protocolos baseados em evidências, mas ambos desempenham um papel importante na função sexual feminina. 

As mudanças fisiológicas, que ocorrem na função sexual feminina, tais como baixa libido, secura vaginal e até privação do sono, teoricamente se baseiam na queda acentuada dos níveis de andrógeno e estradiol, influenciados pela idade e pelo período da menopausa. Por exemplo, os níveis de testosterona de uma mulher aos 40 anos, em média, é a metade de quando tinha 20 anos, e continua caindo até aos 65 anos de idade É possível que esta combinação de quedas dos níveis hormonais, aliada ao fator angústia, leve algumas mulheres ao diagnóstico de Transtorno do desejo sexual hipoativo.

Segundo Glina et al.

Ainda há controvérsias sobre a eficácia do tratamento hormonal para os problemas sexuais, o qual tem indicações muito específicas. Os hormônios comumente utilizados são estrógenos, combinações de progestina com estrógenos, progestinas, andrógenos, precursores de andrógenos, miscelâneas hormonais (raloxifene, tibolona e ferormônios), na forma oral, transdérmica ou outras formas.  

O uso de testosterona, ou o gel de testosterona, ajuda a manter o interesse sexual restaurando o desejo e a excitação, bem como fomenta as fantasias nas mulheres. Segundo Abdo e Fleury 2012, a Sociedade Norte America de Menopausa (North American Menopause Society), preconiza que embora haja evidencias de estudos que indiquem resultados positivos ao uso de testosterona sobre o desejo e excitação, a utilização ainda não é recomendada. 

Não há dúvida de que os andrógenos melhoram os baixos níveis de desejo sexual nas mulheres, mas ainda há perguntas sem resposta. Muitas dessas perguntas ainda serão respondidas, a fim de facilitar o manuseio da dose, combinações e duração, bem como indicações e contra indicações do uso desses hormônios masculinos.    

Mulheres que fazem uso de testosterona podem sofrer de efeitos colaterais reversíveis se tratados precocemente. São eles: acne, queda de cabelo e aumento de peso. Dependendo da dose, também pode causar agressividade e tornar a voz mais grave.  

Quanto aos neurotransmissores, a dopamina e a serotonina, são dois neurotransmissores importantes para a sexualidade. A dopamina exerce uma função excitatória essencial na modulação do desejo sexual, já a serotonina, ao contrário, surge principalmente para realizar um efeito inibidor sobre o desempenho sexual. Embora pareça negativo, é muito importante durante a fase de resolução (período posterior ao orgasmo durante o qual o corpo volta às condições normais). Outros neurotransmissores significativos para a sexualidade são a norepinefrina e a oxitocina, com qualidades de excitação, e a prolactina e o opióide, com qualidades de inibição. Novas estratégias terapêuticas irão reforçar o papel dos neurotransmissores (a estimulação e inibição) no bom funcionamento sexual feminino, como também abrirão novas abordagens e novas possibilidades de intervenção médica.  

Deve-se considerar ainda que outras entidades biologicamente ativas, como os peptídeos, incluindo a ação de hormônios pró-sexuais como a dopamina, noradrenalina, oxitocina, gama-aminobutírico (conhecido como GABA, ácido que tem um efeito inibidor sobre a função sexual como faz a serotonina em outros receptores) e outros, também possuem um papel importante na função sexual feminina. Nos últimos anos, essas moléculas ou vias associadas proporcionaram um foco para o desenvolvimento de terapias médicas para o transtorno do desejo sexual hipoativo. Propõe-se que exista uma complexa relação entre neurotransmissores, vários hormônios e peptídeos, em conjunto com outros fatores como o meio ambiente, no que diz respeito ao efeito sobre a função sexual. 

Até pouco tempo, a relação dos transtornos psiquiátricos com a vida sexual da paciente, era negligenciada. Porém, a principal interferência na esfera sexual, são justamente os psicofármacos, os quais também influenciam no ciclo menstrual e nas funções reprodutivas da mulher. A Tabela 2 mostra os principais efeitos colaterais dos psicofármacos:  

Tabela 2: Principais efeitos sexuais dos psicofármacos em mulheres.

Desejo:
Hipossexualidade – Persistente ou recorrente deficiência (ou ausência) de fantasias/pensamentos sexuais e/ou receptividade à atividade sexual que causa(m) desconforto ao indivíduo. Pode ser determinada por fatores psicológicos ou secundária a alterações hormonais ou intervenções clínicas/cirúrgicas. Qualquer alteração do painel hormonal feminino causada por menopausa fisiológica, cirúrgica ou induzida por medicamentos ou distúrbios endócrinos pode levar à inibição do desejo sexual.
Hipersexualidade
Aversão sexual – Esquiva completa de intercursos sexuais ou relacionamentos íntimos. O transtorno é freqüentemente um problema psicológico causado por razões várias, como abuso físico ou sexual, ou trauma na infância.
Redução da lubrificação vaginal
Orgasmo
Anorgasmia ou redução da intensidade
Orgasmo espontâneo
Orgasmo doloroso
Dispareunia
Vaginismo
Alterações menstruais (dismenorréia, amenorréia, metrorragia)
Hipertrofia clitoriana
Priapismo clitoriano
Infertilidade
Aumento do volume das mamas
Galactorréia

FONTE: Cordás T, et al. Rev. Psiquiatria Clínica. 2006;33(3):168-173. 

Dentre os psicofármacos, os antidepressivos são as drogas que mais se relacionam com a disfunção sexual feminina (também por serem os mais utilizados), sendo reportado por 30% à 70%. A anorgasmia e a redução da libido são as queixas mais frequentes. 

As drogas mais estudadas com o propósito de melhorar a libido, seja para fomentar o desejo ou atuando como antídoto contra as drogas que inibem a resposta sexual são: testosterona, bupropiona, tibolona e flibanserina (a mais recente). Para o tratamento clínico, os níveis de evidências são mostrados na Tabela 3 abaixo: 

Tabela 3: Níveis de evidência dos estudos dos fármacos

FármacoNível de evidência
Testosterona em adesivo (patch)
Indicado apenas na menopausa cirúrgica, ainda não disponível no mercado brasileiro (baseado em RCTs – estudos controlados randomizados)

Flibanserina

Ainda não disponível no mercado (RCTs)
Bupropiona
Mais estudos são necessários (estudos não controlados ou relato de casos)
Testosterona
Não prescrever sem o uso concomitante de terapia estrogênica e/ou estrogênica mais progestagênica e atenção aos efeitos colaterais (estudos não controlados ou relato de casos e opinião de especialistas)
Tibolona
Não pode ser recomendado de rotina (estudos não controlados ou relato de casos)

FONTE: Ankier C, et al. 2013  

No caso da bupropiona, apesar de ser um agente anti-depressivo, tem causado menos interferência no ciclo sexual feminino. Funciona como um inibidor da recaptação de dopamina e noradrenalina. Considerando a combinação com inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), resultou em um aumento do desejo sexual e da excitação em mulheres com HSDD. 

No caso da flibancerina (100mg), em estudos de mulheres na pré-menopausa com HSDD, foi consistentemente associada a melhorias no desejo sexual, além de reduzir os níveis de angústia sexual, em comparação com as mulheres no placebo. Fadiga, sonolência e tontura foram relatados em cerca de 10% das participantes com flibanserina, porém esta medicação ainda está em aprovação para o tratamento de HSDD. 

As principais características e efeitos que fundamentam a influência dos psicofármacos na causa da disfunção sexual, são:

– sedação levando ao desinteresse sexual (ação inespecífica do SNC);

– efeito nos neurotransmissores, como a diminuição da dopamina que intervém na excitação sexual no hipotálamo, ocasionando baixa de desejo e dificuldades na excitação e orgasmo (ação específica do SNC);

– Efeito antiadrenérgico sobre o tônus dos vasos genitais, ocasionam dificuldade de orgasmo (efeitos periféricos); 

– efeitos hormonais, como o aumento na secreção de prolactina secundário ao bloqueio dopaminérgico.  

Sendo assim, de acordo com Kristensen em 2002, ao discutir as possibilidades de tratamento das disfunções sexuais ocasionadas por antidepressivos, sugeriu: mudanças nos hábitos sexuais como aumento das preliminares, redução das doses dos antidepressivos, troca por outras medicações mais recentes como o escitalopram (aparentemente com menor risco de disfunção sexual) e uso de antídotos como bupropiona e ioimbina. 

Para os médicos, o tratamento das disfunções sexuais não é tarefa fácil, pois ajudar indivíduos frustrados e desapontados com sua própria apatia sexual, ou a de seu parceiro, é um desafio que nem sempre alcança bons resultados. 

Porém, à medida que os médicos se tornam mais conscientes da base do diagnóstico e da terapia das disfunções sexuais, podem aconselhar ou efetivamente tratar, e/ou encaminhar adequadamente esses pacientes.

 3.5.2 Tratamento Psicoterápico

A psicoterapia consiste em uma das principais modalidades terapêuticas ao abordar os problemas sexuais das mulheres que não apresentam causa física, mas possuem dificuldade na excitação subjetiva. É principalmente indicada para mulheres com comprometimento psíquico, da autoimagem e do vínculo conjugal, bem como fantasias impeditivas e ansiedade excessiva.  

Segundo Althof et al., 2005, desde que se sabe que fatores psíquicos são importantes para o desenvolvimento e, especialmente, para a manutenção de disfunções sexuais, intervenções psicológicas são mais promissoras no tratamento do que opções farmacológicas. Principalmente por duas vantagens: não têm efeitos físicos negativos e visam o restabelecimento do funcionamento sexual e o aumento da satisfação para além da redução dos sintomas.   

De acordo com Leiblum em 2003, em caso de disfunção sexual feminina, é comum ter comorbidade, por isso, a avaliação é necessária para esclarecer pontos como: se é primária ou secundária, situacional ou generalizada, quais são os fatores contextuais da vida da paciente, condição médica e grau de desconforto (leve, moderado ou intenso). 

As principais intervenções psicológicas, e suas definições, que podem ser utilizadas para disfunção sexual, são as seguintes:

1. Treinamento de habilidades sexuais: Intervenções com foco exclusivamente em exercícios que ajudam os pacientes a alcançar a satisfação sexual, intimidade e conhecimento através da extensão do repertório de técnicas e habilidades sexuais individuais ou do casal, como o treinamento da masturbação da mulher, exercícios de foco sensorial e técnicas como stop-start que aumenta o controle voluntário do homem.

2.Terapia sexual : Baseia-se no ciclo de resposta sexual por Masters e Johnson (1970). Esta intervenção inclui os padrões da terapia sexual descrita por Masters e Johnson (1970) e é normalmente feita por uma equipe de coterapeutas e necessariamente compreende exercícios de psicoeducação, bem como aconselhamento. Este tratamento, após últimas modificações, é geralmente realizado com um único terapeuta.

3.Terapia cognitivo comportamental (TCC): Intervenções com o objetivo de

modificar crenças disfuncionais (reestruturação cognitiva). Uma das ênfases deste tratamento é em atividades feitas fora da sessão (tarefas de casa), psicoeducação e aquisição de competências. O terapeuta exerce uma influência ativa através de interações terapêuticas e tópicos de discussão.

4.Terapia de casal: Intervenções com foco nos problemas de relacionamento. As estratégias incluem treinamento de comunicação, habilidades sociais ou intervenções cognitivas, tais como expectativas, a fim de melhorar o entendimento mútuo.

5.Dessensibilização sistemática: Uma técnica de terapia comportamental em que o relaxamento do músculo é utilizado para reduzir a ansiedade associada a certas situações. O uso de dilatador vaginal é incluído nesta categoria de tratamento. 

6. Intervenção educativa: Intervenções com foco exclusivamente na divulgação de informações sobre o psicológico e fisiológico. Explicação das alterações que ocorrem durante a resposta sexual.

7 Outras psicoterapias como por exemplo, psicodinâmica, hipnoterapia, terapia racional emotiva, etc. 

A terapia usada por Masters & Johnson (1970) foi principalmente a aplicação da abordagem cognitivo comportamental, embora necessitasse de mais investigação, como por exemplo, nas ideias irracionais e pensamentos disfuncionais, se revelou ser a abordagem mais eficaz na terapia sexual. Especialmente em mulheres que sofrem de depressão, ansiedade e humor embotado. 

Foco sensível, técnica originalmente desenvolvida por Masters e Johnson, é o melhor exemplo de terapia sexual comportamental e consiste em uma série progressiva de tarefas utilizadas para melhorar as experiências eróticas e a autoconsciência dos parceiros e para reduzir a ansiedade sobre o desempenho sexual. A terapia sexual cognitivo comportamental inclui componentes de terapia sexual, educação sexual, mas coloca maior ênfase na modificação de padrões de pensamentos ou crenças que interferem na intimidade e no prazer sexual.  

De acordo com Glina et al., 2013, durante o processo de individuação, o ser humano é submetido a inúmeras vivências de troca com o mundo, as quais são geradoras de crenças. Essas crenças se tornam verdades absolutas que se desenvolvem desde a infância, as quais o orientarão e conduzirão o indivíduo em sua forma de pensar, sentir e agir no mundo. Sua visão acerca das diversas situações fica diretamente influenciada por essas crenças que recaem sobre si, sobre os outros (relacionamentos) e sobre tudo no mundo (interações, respostas emocionais, comportamentais e fisiológicas). 

A psicoterapia tem sido clinicamente utilizada há décadas e é favorável quando os especificadores do DSM para Transtorno do desejo sexual hipoativo são adquiridos/situacionais, logo, o tratamento incidirá sobre modificações em fatores precipitantes ou em circunstâncias e comportamentos que contribuem para este problema. Quando o baixo desejo está determinado por fatores psicológicos (secundários), tais como problemas de relacionamento, traços de personalidade, depressão, ansiedade, imagem corporal distorcida, ou abuso sexual, a psicoterapia deve focar na resolução desses problemas.  

Promover uma mudança de comportamento tão diferente dos padrões absorvidos não é algo fácil. Porém, os conselheiros devem se esforçar para remover as práticas culturais que confundem as mulheres e fazem com que se sintam culpadas em relação às suas atividades sexuais. Desenvolver programas que permitam que elas questionem, explorem e avaliem as suas atitudes sexuais podem contribuir para o desenvolvimento de seus próprios valores, aumentando a autoestima e a visão em relação aos relacionamentos, bem como suas obrigações e responsabilidades. Terapeutas sexuais devem ajudar indivíduos disfuncionais a desaprenderem seus comportamentos ineficientes e substituí-los por outras práticas positivas e eficazes de interação sexual.

Como exemplos de exercícios de terapia sexual, existem o relaxamento, a autoerotização, a biblioterapia, o autorreconhecimento corporal e os mais avançados como: foco sensorial, masturbação e manobra da ponte. 

É muito importante que a terapia sexual não seja abordada de forma reducionista, como por exemplo, no tratamento individual de qualquer disfunção sexual, não considerar o relacionamento interpessoal deste indivíduo. A importância que se dá à avaliação e intervenção dos aspectos biológicos deve ser a mesma dada às condutas estritamente sexuais, a qual ajudará a evitar o desenvolvimento e a manutenção de “mitos sexuais” em indivíduos e em casais. 

Segundo Leiblum em 2012, “a expertise da terapia conjugal convencional fracassa quando aplicada a problemas de desejo sexual: você não pode concordar em discordar de seu parceiro sobre fazer sexo. E, enquanto você ajusta e negocia sua forma de ir pra cama, o desejo se foi”. 

Segundo Abdo, tem sido bastante eficaz a psicoterapia de grupo tematizada e de tempo determinado, no qual o foco é uma ação psicoeducativa que utiliza técnicas que facilitam a desinibição, desenvolve habilidades de comunicação e de autoconhecimento, ampliando a capacidade dos indivíduos de lidar com sua função sexual. 

Em um primeiro estudo que investigou a influência da biblioterapia para o baixo desejo sexual, realizado com mulheres heterossexuais que se auto identificaram como tendo baixo desejo sexual atribuído ao estresse e exaustão, utilizou a leitura do livro “O Guia da mulher cansada e apaixonada por sexo” (Mintz, 2009). A questão em estudo era saber se as mulheres, ao ler este livro teriam ganhos significativos no desejo sexual e em aspectos relacionados ao funcionamento sexual (excitação, lubrificação, satisfação, orgasmo e dor) e se esses ganhos seriam mantidos ao longo do tempo.  

Outra ferramenta que pode ser útil para a discussão das preocupações concernentes a saúde da mulher, é o modelo PLISSIT, o qual foi projetado para ajudar os profissionais da área de saúde que desejam incorporar algumas técnicas de terapia sexual em sua prática geral: Permissão (P): Mulheres recebem permissão para discutir seus problemas e emoções; Informações Limitadas (LI): O profissional de saúde fornece algumas informações básicas e recursos educacionais; Sugestões específicas (SS): Diretrizes específicas ou conselho para resolver o problema apresentado. Terapia Intensiva (TI): O profissional de saúde indica terapia de casais quando o caso de desejo sexual hipoativo requerer tratamento mais intensivo do que as sugestões fornecidas até então. 

O rigor metodológico, com um grupo de controle, com medições adequadas é uma meta que deve ser pontuada nas pesquisas e estudos sobre terapias sexuais, porque embora existam técnicas e tratamentos eficazes, ainda há pendências a serem elucidadas como aspectos padronizados de diagnóstico (investigação), tratamento e os critérios de uma terapia bem sucedida. 

Após uma revisão sistemática e metanálise sobre a eficácia das intervenções psicológicas para disfunção sexual, encontrou-se evidências de que intervenções psicológicas são eficazes para melhorar tanto a gravidade dos sintomas quanto a satisfação sexual em mulheres com certos tipos de disfunção sexual, tais como: Transtorno do desejo sexual hipoativo e anorgasmia. 

Tendo em vista que a etiologia do Distúrbio do Desejo Sexual Hipoativo (HSDD) é multifatorial, a abordagem terapêutica depende das possíveis causas. O aconselhamento sexual e as regras do estilo de vida do casal, serão sempre fundamentais. Em todos os casos em que houver suspeita de deficiência hormonal, a administração de andrógenos, a sóis ou em combinação com estrogênios, é recomendada. E finalmente, comorbidades precisam ser levadas em consideração, uma vez que é uma causa frequente de HSDD. 

Sem desqualificar o diagnóstico e a definição do que seja disfunção sexual, o terapeuta sexual deve considerar o que o indivíduo e/ou os casais definem como problema sexual, satisfação sexual e o sucesso do tratamento. Afinal, o orgasmo não deve ser o único critério avaliativo, mas torna-se importante incorporar, e não subestimar, a avaliação afetiva, emocional e relacional do indivíduo. 

  • Tratamento Fisioterápico

Apesar de ser uma área recente no tratamento das disfunções sexuais femininas e seu papel ser ainda pouco conhecido por profissionais da área médica, a fisioterapia tem sido uma alternativa eficaz para mulheres que apresentam problemas como dispareunia e vaginismo, os quais podem ocasionar a falta de desejo e excitação. 

O tratamento fisioterápico da disfunção sexual consiste em técnicas, exercícios, biofeedback e eletroterapia (para diminuição da dor) conscientizando a mulher da musculatura do assoalho pélvico, com a intenção de fomentar o desejo sexual possibilitando a melhora da excitação.   

A integração do fisioterapeuta à equipe multidisciplinar no tratamento das disfunções sexuais é de suma importância. A fisioterapia detém de alguns recursos os quais tem como objetivo reabilitar e melhorar a função dos músculos do assoalho pélvico. O fisioterapeuta do assoalho pélvico também fornece à paciente uma visão geral da anatomia e da função da musculatura do assoalho pélvico, a qual não tem só o papel de suportar os órgãos pélvicos, mas também na otimização do funcionamento sexual.

Para que seja desenvolvida uma boa intervenção fisioterápica é necessário realizar uma boa avaliação, a qual é formada por Três etapas: 

a) anamnese, 

b) inspeção e palpação do assoalho pélvico 

c) Avaliação postural. 

A avaliação do fisioterapeuta difere do ginecologista. Tanto o exame interno quanto o externo focalizam a mobilidade e a integridade da musculatura, das fáscias e dos tecidos conectivos. O exame fisioterápico consta em: 

– Observação da vulva, períneo e ânus

– Palpação para observar pontos de dor e alteração de tônus muscular, e a função da musculatura do assoalho pélvico

– Avaliação de pontos gatilhos.

– Avaliação de possível prolapso.

A avaliação postural visa identificar alterações que possam ser a causa da disfunção sexual ou contribuir para o seu agravamento. Avalia-se principalmente as alterações das curvas fisiológicas da coluna vertebral, na qual localizam-se as inervações (T12-S3) do assoalho pélvico, que interferem na biomecânica pélvica e que prejudicam de forma significativa o desempenho dos músculos do assoalho pélvico. 

Todos esses recursos tem como objetivo, no caso do DSH, fomentar o desejo sexual possibilitando a melhora da excitação. 

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