TDAH, Dislexia e Síndrome de Irlen – Uma breve explicação
Quem já não se deparou com uma criança que tivesse alguma dificuldade de aprendizagem ou que apresentasse certa limitação para se relacionar com outras crianças e adultos? Quem já não teve a impressão de que certas crianças são mal educadas ou nunca receberam limites de seus pais? A dificuldade de educar e de lidar com crianças assim, de fato existe e é muito grande. Mais difícil ainda é para os pais, pois na maioria das vezes, não sabem o que fazer. Imagine como seria viver com dificuldade para se relacionar, ou como seria possuir várias incapacidades como não conseguir aprender a ler, escrever e até falar? Como deve ser difícil para os portadores de transtornos, serem compreendidos, inseridos e aceitos pelos grupos com os quais convivem e pela sociedade a qual faz parte. O sofrimento acaba sendo de todos os que estão ao seu redor como pais, familiares, amigos e professores, mas sem dúvida, quem mais sofre é a criança ou adolescente que além de ter que lidar com os sintomas da doença, também é alvo da impaciência, desespero, e muitas vezes da ignorância dos que deveriam saber cuidar e tratar deles.
Baseada nas diretrizes das devidas Associações Brasileiras, descrevo uma breve explicação contendo o conceito e as principais características de três dos mais significativos transtornos de aprendizagem, com o intuito de ajudar aos pais e professores de crianças e adolescentes que podem ser, ou são, portadoras desses distúrbios. Assim, talvez sejam capazes de perceber alguns de seus sintomas e, em conjunto com profissionais especializados, possam diagnosticá-los e tratá-los o quanto antes, minimizando os comprometimentos do aprendizado, da autoestima e dos relacionamentos, melhorando a qualidade de suas vidas.
TDAH – TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE
Esta nomenclatura parece ter caído no senso comum, afinal não é raro ouvirmos alguém se referir a uma criança agitada e impulsiva como sendo “TDAH”. Apesar disso, ainda existem pessoas que duvidem que isso possa ser verdade, pois acreditam que crianças são mesmo peraltas, às vezes parece que não ouvem o que se diz a elas, são preguiçosas para estudar, um tanto quanto agressivas e até inconvenientes em seu comportamento, mas, é isso mesmo ou de fato se trata de um caso de TDAH? Pode-se considerar isso uma doença? Bem, pode ser que esta criança realmente não tenha recebido limites de seus pais, mas também pode ser que ela seja um caso clínico, entre eles o TDAH, o qual é uma doença. Como diz o Projeto Inclusão Sustentável (PROIS), o TDAH é um transtorno neuropsiquiátrico que acomete crianças, adolescentes e adultos, independente de pais de origem, da educação recebida, do nível sócio econômico, raça ou religião. Atualmente, não existem no meio acadêmico, dúvidas sobre a gravidade e a amplitude das consequências do TDAH na vida dos portadores e de seus familiares. Para evitá-las, é preciso reunir esforços em diversas áreas para reduzir o tempo entre o início dos sintomas e a realização do diagnóstico correto.
É importante sabermos que estudos são feitos para investigar quantos indivíduos possuem um diagnóstico específico, em uma determinada população. Esse número total é chamado de “taxa de prevalência”. Em 2007, foi publicado um dos estudos mais considerados e importantes sobre prevalência de TDAH, o qual avaliou os resultados de mais de oito mil estudos em todo mundo e conseguiu demonstrar que a estimativa para a prevalência de TDAH seria de 5% da população infantil mundial (PROIS). Cerca de 60 a 80% das crianças com TDAH mantém os sintomas na adolescência e na vida adulta.
Os principais sintomas desta doença tem relação com desatenção, hiperatividade e impulsividade. Por isso, as dificuldades mais significativas do portador de TDAH são: planejar, organizar, executar tarefas, se relacionar, se lembrar das coisas, agir de acordo com as normas, manejar o tempo, traçar metas e persistir nelas, ter consistência em seu desempenho, ter iniciativa e autocontrole, necessitar de atenção sempre, motivar-se etc. Os prejuízos podem ser repetência e evasão escolar, dificuldades sociais, abuso de drogas, perda do emprego, divórcio e outros.
Para se alcançar o diagnóstico de TDAH é necessário que os critérios do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV) sejam considerados, como por exemplo: persistência dos sintomas de pelo menos seis meses, início precoce dos sintomas antes dos sete anos, interferência significativa no funcionamento do indivíduo e prejuízos em mais de um cenário – escola/trabalho, casa e situações sociais. A intervenção farmacológica é o que permite que o portador tenha uma vida mais estabilizada e normal.
DISLEXIA
A Dislexia não é considerada uma doença e por isso não se pode falar em cura. Segundo a psicóloga e psicopedagoga Marina S. Rodrigues Almeida, a definição mais usada na atualidade é a do Comitê de Abril de 1994, da International Dyslexia Association – IDA, que diz: “Dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem nas áreas da leitura, escrita e soletração.” É um distúrbio específico da linguagem, caracterizado pela dificuldade de decodificar palavras simples. Mostra uma insuficiência no processo fonológico. Apesar de submetida à instrução convencional, adequada inteligência, oportunidade sociocultural e não possuir distúrbios cognitivos e sensoriais fundamentais, a criança falha no processo de aquisição da linguagem. A dislexia é congênita e hereditária, e seus sintomas podem ser identificados logo na pré-escola. Muitas vezes é confundida com TDAH, problemas psicológicos, ou mesmo preguiça. A prevalência da dislexia tem sido estimada em uma faixa que varia de 5 a 17% da população mundial. É mais prevalente no sexo masculino.
Esse transtorno se caracteriza pela dificuldade do portador em decodificar símbolos, ler, escrever, soletrar, compreender um texto, reconhecer fonemas, exercer tarefas relacionadas à coordenação motora; e pelo hábito de trocar, inverter, omitir ou acrescentar letras/palavras ao escrever. Porém, em hipótese alguma o disléxico tem comprometimento intelectual. Os sintomas, ainda, podem ser aliviados e contornados, com acompanhamento adequado direcionado às condições de cada caso.
A dislexia tem como causa alterações celulares no cérebro, ou seja, quem não tem dislexia, utiliza três áreas do cérebro enquanto está lendo. A primeira faz a identificação das letras e a segunda parte faz com que entendamos o significado da palavra. Por fim, uma terceira área processa todas essas informações. Em uma pessoa com dislexia, as duas primeiras áreas são menos ativas. Aos pais é sempre bom lembrar que a coisa mais importante a fazer é ajudar a elevar a autoestima, oferecendo segurança, compreensão, cuidado, carinho e elogios sempre.
SÍNDROME DE IRLEN
Ainda não muito conhecida no Brasil, a Síndrome de Irlen, também conhecida como Dislexia Visual, é outro distúrbio de aprendizagem, porém se baseia na percepção visual. Os olhos não são a principal fonte do problema, mas é causado pela maneira em que o cérebro interpreta a informação visual que está sendo enviado através dos olhos. A S.I impede muitas pessoas de ter uma leitura eficiente. Portadores desta síndrome percebem o material de leitura e/ou seu ambiente de forma diferente. Eles não têm consciência de suas distorções, pois sempre as perceberam como “normalidade”, por isso a frustração pela lentidão e esforço para uma atividade que aos demais é prazerosa e natural. Vale destacar que é nesta situação que se encontram milhares de candidatos ao ENEM, que terão o desempenho prejudicado pela exaustão decorrente desta Síndrome.
O Método Irlen, foi adotado como referência diagnóstica em estudantes e adultos com atraso no desenvolvimento escolar e dificuldades profissionais. Estima-se que entre os disléxicos, a S.I tem a prevalência de 46% na população em geral, em bons leitores sem queixas específicas o percentual é de 12 a 14% atingindo indivíduos que, embora evitem atividades relacionadas à leitura e escrita, tem fadiga visual, baixa visão de profundidade, fotofobia, desconforto ao uso de computador, omissão de palavras e linhas de texto, inversão de sílabas, distração e sonolência como algumas de suas queixas principais. Como os sintomas podem ser semelhantes com outros distúrbios, o diagnóstico diferencial é indispensável para intervenção correta.
De acordo com o Método Irlen, o tratamento desta síndrome é o uso de óculos com lentes coloridas, prescritas por oftalmologistas especializados e, com a cor adequada para cada caso. Essas lentes corrigem as distorções visuais nos casos mais graves e as transparências coloridas, também indicadas por um especialista, utilizada em cima do texto na hora de ler, é outra alternativa para os casos em que o grau de distorção é menor. Somente um profissional dentre os 1460 capacitados no Brasil pode, através de entrevistas e testes com lâminas coloridas, dar início ao rastreamento. O diagnóstico é confirmado na Fundação Hospital dos Olhos. Os óculos também são providenciados por eles e custa em média U$900.
Concluindo, seja qual for o caso da queixa escolar, quanto mais precocemente forem diagnosticados os transtornos ou distúrbios, e mais adequado for o tratamento, mais fácil será para os professores e familiares lidarem com esta criança e, mais possível será para esta ter uma vida feliz. O diagnóstico deve ser o início do tratamento e não o seu fim. Ele não deve estigmatizar uma pessoa, mas ele é importante para direcionar o seu tratamento. Os tratamentos costumam envolver uma equipe multidisciplinar composta por profissionais das áreas da psiquiatria, neurociência, psicologia, fonoaudiologia e pedagogia, e também conta com o envolvimento da criança, da família e da escola. Em grande parte dos casos, é a escola que mais tem oportunidades de detectar os sintomas dessas doenças, os quais estão diretamente ligados à aprendizagem. É o professor quem tem uma condição privilegiada para observar e comparar o desempenho escolar desta criança com o de outros alunos da mesma idade. Através de mecanismos como o acolhimento, a organização do espaço, a integração com o grupo, a realização de testes e provas diferenciadas e a parceria com a família, é que o professor demonstrará interesse no desenvolvimento deste aluno “especial”. É este profissional quem possui condições de ajudar esta criança a se desenvolver na fase mais importante de sua vida quando o aprendizado e seus relacionamentos podem definir seu futuro.
Fonte:
Sites: www.tdah.org.br / www.dislexia.org.br / www.irlen.com/index.php / www.planetaeducação.com.br/portal/artigo?artigo=1328 data: 19/01/2013
Cartilha do PROIS: TDAH-Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade – Uma conversa com educadores.