CRISE NO CASAMENTO – O QUE FAZER QUANDO APARECER
1. INTRODUÇÃO
Se ao perguntar a casais o que os motivaram a se casar, o que os levaram até o altar para dizer sim, a grande maioria das respostas certamente irá se referir ao amor como sendo o grande motivo da união dos dois. Esta resposta está na ponta da língua, pois o amor é considerado o grande coadjuvante de um casamento, onde os noivos são sempre os atores principais. Porém, será o amor aquele que fará com que o casamento permaneça até que a morte os separe? Esta resposta, que diz ser o amor a maior motivação dos casamentos e o grande motivo desses sobreviverem ao tempo e ao mundo moderno, já vem pronta e não importa quantos anos tenha o casamento.
De fato esta resposta é esperada, mas não é somente ele quem os mantém unidos, firmes e inseparáveis. O amor talvez seja o motivo que sobreviva “até que a morte os separe”, porém, sabemos que durante a caminhada do casal, nem sempre ele está presente. É como se o amor precisasse sair de cena em algum momento (ou momenos) para que outros motivos necessários para que esta união seja para sempre, apareçam e mostrem ao casal que não basta o amor para que se mantenham casados, mas sim uma “bagagem” que envolve, dentre outras coisas, maturidade e compromisso. Neste momento, quando parece que o amor acabou, quando se abre uma lacuna entre o casal, é que se instala uma crise conjugal, a qual é composta de incertezas, medos, inseguranças, decepções, enganos e desencontros na comunicação, levando o casal a um tempo de cegueira e total desentendimento. Durante este período parece que a vida para e tudo passa a ser menos importante do que seu casamento e seus sentimentos, permitindo que seja possível aos cônjuges dar total atenção à emergência que surge na alma e no coração.
A crise no casamento é um fato que todos os casais experimentam e são até “esperadas” como a famosa crise dos sete anos vivida por muitos casais. Porém, agora as crises não possuem idade para acontecer e têm ocorrido muito mais cedo do que o esperado, como em casais com um ano de convivência matrimonial, por exemplo. Os problemas no casamento que geram essas crises conjugais são de vários tipos e possuem diferentes razões e origens, mas o fato é que acabam sendo os mesmos sofridos pela grande maioria dos casais. Não é privilégio de ninguém ter tais problemas, afinal, todos passarão ou já passaram por eles, mas o que faz a diferença entre os casais é como passam pelos problemas que surgem. Como encaram e enfrentam as diferenças? A quem recorrem para pedir ajuda? Onde procuram as respostas para entender o que estão vivendo? Enfim, o que aprendem com suas superações? Muitos são os que lutam com sofrimento e mesmo sem acreditar que podem obter vitória e a restauração do casamento, persistem por acreditar que se fizerem a sua parte Deus os abençoará. Porém, outros desistem sem tentar, ou por acharem que o seu problema não possui solução (dão seu veredito sem depender de Deus) ou simplesmente por pura ignorância. Em muitos casos fazem isso porque não sabem o que é verdadeiramente viver uma vida a dois. Este certamente é outro fator que colabora para o aumento das crises no casamento, aliado a falta de preparação e de maturidade dos noivos.
Lembro que antigamente se usava levar objetos com defeitos para o conserto, como eletrodomésticos, por exemplo, para tentar concertar antes de jogá-lo fora. Mas hoje é o contrário, as pessoas descartam com facilidade aquilo que não funciona bem e ao invés de ver o que precisa ser feito para que volte a funcionar como antes, preferem comprar outro, mesmo pagando mais caro, afinal dá menos trabalho. O que vemos hoje, infelizmente são casamentos descartáveis apoiados pela necessidade e busca da felicidade acima de tudo. O que digo é que não há casamento por pior que esteja que Deus não possa consertar e não há casamento por melhor que esteja que Deus não possa melhorar.
Em complementação a esta ideia exposta, vale ressaltar que a solução de uma crise conjugal dependerá sempre de ambos os cônjuges, afinal a “culpa” pela crise é dos dois de igual modo. Porém, existem casos excepcionais de casamentos em crise que, de fato, apresentam problemas que podem fugir desta ideia generalizada, como os casos de total incompatibilidade do casal em alguns aspectos ou em certas áreas do casamento (como a sexual). Porém, ainda assim, acredito que as crises começam na motivação errada e nas expectativas equivocadas. Somando a isso, a total inabilidade dos casais de perceberem os problemas e ultrapassarem as dificuldades, com maturidade e senso de compromisso.
2. O QUE É E O QUE ESPERAR DO CASAMENTO
Quando se depara com algo novo e desconhecido, como um novo emprego, por exemplo, é normal sentir euforia pela novidade e tudo mais que isso pode trazer pra vida. Porém, não deixa de ser um desafio, afinal é impossível prever o que vai acontecer e é, por isso, que também experimenta-se insegurança e medo. Com o casamento não é diferente, pois as dúvidas e preocupações vêm sobre todos e aí começam as imaginações e pensamentos de como será o casamento. Como está descrito no dicionário, casamento é o vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o reconhecimento governamental, religioso ou social e que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, embora possa ser visto por muitos como um contrato. O casamento criado por Deus é maravilhoso e não é, nem nunca será uma instituição falida. É uma ligação séria, forte e permanente entre um homem e uma mulher. A bíblia diz em Mateus 19:5-6 “… Por esta causa deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto o que Deus ajuntou não o separe o homem.” O que tenho visto é que muitas vezes os cônjuges não se conhecem como deveriam antes de se unirem. O bem sucedido casamento não acontece sem que haja dedicação de ambos, sem o interesse em conhecer bem a pessoa amada e sem saber o que o outro pensa e espera do casamento. Na verdade muitas pessoas esperam a própria satisfação e outros ganhos que o casamento pode lhes proporcionar, mas não se preocupam em saber o que Deus espera delas ou quais são os planos de Deus para sua união. A maioria dos casais não se prepara para serem “dois em um”, mas quer que seu companheiro o faça feliz. Nem sequer sabem de seus deveres nem de seus direitos, mas esperam que o outro saiba e, sendo assim, realize seus desejos e atenda as suas expectativas.
O casamento possui suas exigências, as quais precisam ser conhecidas pelo casal antes de se casarem. Os deveres dos cônjuges são tão importantes quanto seus direitos, e eles se completam na medida em que valem para o esposo tanto quanto para a esposa. Se todos os noivos e noivas fossem ensinados acerca do casamento, com certeza o matrimônio seria mais honrado. “Digno de honra entre todos seja o matrimônio…” (Hb 13:4). Gostaria de destacar alguns deveres que são mútuos dos cônjuges:
1- Amor: (Ef.5:25;28-29). Sem amor é impossível haver harmonia entre o casal. O amor é a base do casamento, pois quando há amor no casamento, há cuidado e proteção um para com o outro, há tolerância na saúde e na doença, há aceitação das diferenças que inevitavelmente existirão e há vontade de fazer o outro feliz. Conhecer os gostos e preferências de seu companheiro a fim de agradá-lo, deixando de lado o que pode desapontá-lo, são gestos de amor verdadeiro que demonstram real interesse no sucesso do relacionamento.
2- Respeito: (Ef 5:33). Se o amor é a base, o respeito é o alicerce do casamento. Assim como o homem deve amar sua esposa, esta deve respeitar/honrar seu marido. E do mesmo modo a que me referi ao amor, digo sobre o respeito, o qual é um dever de ambos para que haja um bom entendimento entre eles. Imagine viver com alguém que exerce o papel de cônjuge, mas não cumpre sua função de cúmplice e de maior apoiador. A falta de respeito e consideração tende a minar o sentimento mais sublime que pode haver entre duas pessoas.
3- Companheirismo: (Pv 27.8). O marido e a esposa devem viver suas vidas juntos em companhia um do outro e em comum acordo. O Companheirismo é uma necessidade mais presente na esposa, pois para ela a amizade gera cumplicidade e segurança. Consequentemente fará com que se sinta mais amada e mais solícita ao marido, o qual por sua vez, se sentirá mais confiante e tranquilo. O casal deve buscar a união que produz paz e evitar a discórdia que causa as dissensões. Um casal amigo é mais capaz de compartilhar suas dificuldades e conquistas, sempre em busca do bem estar de ambos.
4- Empatia: (I Co 13:4-7). Quando o cônjuge consegue se colocar no lugar do outro, é capaz de amá-lo sem medir esforços. A empatia permite que o casal tenha uma
boa comunicação, a qual é extremamente necessária para que o casal estabeleça um relacionamento maduro alicerçado na confiança e no amor.
5- Cooperação: (Ef 4:15-16). Que maravilha é poder contar com o cônjuge na caminhada da vida, mesmo que para isso seja necessário ajudar o outro na educação dos filhos, no trabalho doméstico, no emprego ou nos negócios, na vida espiritual ou em outra área da vida, sem cobrar nada ou criticar. Digo isso porque existem casais que vivem em disputa por reconhecimento e poder sem perceberem que se distanciam um do outro. A cooperação mútua é algo praticado por casais que entenderam a importância do crescimento e da valorização de ambos, afinal, para Deus os dois formam uma única pessoa (I Pe 3:1-2;7)
6- Satisfação sexual: (Pv 5:18-19). Deus presenteou o casamento com o ato sexual e, por isso, como filhos podemos e devemos aproveitar da melhor forma possível este presente do Pai. Isso não só fomentará a cumplicidade e a união do casal, como também trará felicidade para ambos, logo, para Deus. Infelizmente em muitos casos é a ignorância que os impedem de buscar a satisfação que o sexo pode proporcionar. Não deve ser tratado apenas como um dever ou até mesmo um fardo, mas deve ser visto como um momento prazeroso, o qual deve ser vivido com amor, respeito e pureza. O marido deve conceder à esposa o que lhe é devido, e também semelhantemente a esposa ao seu marido (I Cor 7:2-5). A esposa deve suprir as necessidades do marido, e o contrário também é verdadeiro. Ambos pertencem ao outro. Logicamente que, quando há amor, respeito, companheirismo, cumplicidade e uma boa comunicação no casamento, o sexo se torna uma “ótima” consequência deste abençoado relacionamento.
7- Comunicação (Pv 12:13-20) : Com certeza um dos principais motivos causadores de crise e de desentendimentos entre os casais é a comunicação, a qual fica ainda mais truncada durante uma crise. Achar que o outro deve saber o que você quer, pensa, gosta, etc, sem que em algum momento isso tenha que ser dito, é ilusão. Pensar e agir como se o cônjuge tivesse uma bola de cristal que permita que ele saiba tudo sobre você e esperar que ele aja de acordo com suas vontades é uma ideia equivocada de casamento. Se você não se comunicar bem e não for assertivo, os desentendimentos serão muitos e o que era para ser uma relação de amizade e companheirismo passa a ser uma disputa sem fim. Sabemos que não é fácil esse entendimento entre homens e mulheres por serem tão diferentes, mas quando há entrega de coração na relação, permitindo que ambos se conheçam de verdade, facilita a confiança, a amizade e a cumplicidade do casal. Expressar seus desejos e expectativas, não esperando que o outro as adivinhe é sinal de maturidade e compromisso. O mundo não gira ao redor de um dos dois, então compartilhe mais para que se conheçam e cresçam juntos, afinal buscar conhecer as expectativas de ambos é a forma mais eficaz de evitar as frustrações.
8- Criatividade: (Ct 7:6-12))Outro aspecto bastante relevante do casamento, o qual se deve esperar, é que inevitavelmente ele entra na rotina. No início tudo é novidade, mas depois de alguns meses ou um ano, tudo entra na mesmice e aí o que fazer para não cair na rotina? A rotina é algo que, se vista com bons olhos, traz segurança e estabilidade para o casal, porém no dia a dia, as obrigações domésticas como: pagamento de contas, tarefas de casa, o cuidado dos filhos e outros, fazem com que os cônjuges deixem de prestar atenção um no outro, e se esquecem do namoro e dos atributos do outro, os quais o fizeram apaixonar-se. Por que não retomar o namoro e alavancar o romance? Passear de mãos dadas, ouvir música ou ver filme juntos, comprar um presentinho, arrumar uma bela mesa para fazerem a refeição juntos, vestir uma roupa íntima diferente, separar um dia da semana para ser apenas de vocês, enfim, se dedicar a gastar tempo juntos, isso evita que a relação fique estagnada e fria. Os cônjuges devem resgatar os programas que faziam juntos quando namoravam para não deixar que a mesmice tome conta da união. As novidades e surpresas devem ser constantes na relação a dois, pois isso torna o relacionamento sempre gostoso e interessante.
Achar que casamento é apenas um conto de fadas ou um conjunto de direitos e deveres é pura ingenuidade e engano. Ser apenas o provedor do lar ou a esposa submissa não basta. Não se deve esquecer que o amor e o afeto precisam ser cultivados, como uma plantinha que deve ser regada diariamente, com atitudes de carinho e demonstrações de admiração e apreço, senão, uma crise fatal poderá ser desencadeada. Um bom casamento não acontece por acaso, é fruto de afeto, muita dedicação e infindáveis lições de aprendizado.
3. O QUE FAZER PARA SUPERAR AS CRISES
É importante ter em mente que em qualquer relacionamento as dificuldades existem, são normais e esperadas. As dificuldades no casamento podem ser de ambos ou de apenas um dos cônjuges, porém, acredita-se que numa crise a parcela de culpa é sempre igual para ambos. Como dito antes, algumas crises são previsíveis e existem acontecimentos que podem desencadeá-las como uma gravidez não planejada, doença na família, desemprego, dificuldade financeira, aquisição ou perda do imóvel e outros. Cada um dos cônjuges terá sempre a sua versão dos fatos. Pode-se até dizer que sempre existem três verdades em cada situação: a verdade do marido, a verdade da esposa e o fato em si. Infelizmente, cada um percebe a crise de um jeito, porém, terá que lidar com ela aprendendo a vê-la também com os olhos do outro. Seja qual for a situação, os sinais da crise conjugal aparecem, como os desentendimentos e brigas, a diminuição do diálogo, do carinho e do tempo juntos, a falta de interesse no outro e consequentemente o afastamento. Porém, é preciso estar atento a esses sinais e não fingir que não está acontecendo nada. Enfrentar a situação é sempre a melhor opção e isto é uma demonstração de maturidade e interesse na relação, mas desistir do casamento quase nunca é a melhor opção.
As crises podem ser enfrentadas de diversas maneiras e uma delas é através do aconselhamento, o qual poderá ser feito com um familiar, com outro casal amigo, com um líder espiritual ou com o pastor. O aconselhamento ajuda o casal a fazer uma reflexão sobre casamento, permitindo que sejam revistos conceitos, crenças e comportamentos. Porém, existem casos e problemas que demandam a atenção e a intervenção de um psicoterapeuta, profissional especializado no acompanhamento e tratamento de casais. Essa ajuda especializada permitirá que o casal a resgate seus sentimentos, por mais que pensem que já não existam. Também os ajudará a resignificar acontecimentos marcantes que provocaram mágoas e feridas, através de técnicas e de psicoeducação. O tratamento psicoterápico leva um tempo maior, mas é extremamente eficaz na reconstrução do casamento, para o qual muitas vezes já não há esperança de mudança e acerto. Em ambas as ajudas evidentemente alguns aspectos do casamento serão abordados, como o diálogo, o companheirismo e o namoro. Começar do início novamente é sempre redescoberta. Certamente que conhecer seus deveres e direitos e buscar cumpri-los, facilitará a comunhão e a vida a dois. Primeiramente porque isto é obedecer a Deus e segundo porque quando se entende que é primordial para o cristão alegrar a Deus com atitudes obedientes e com um coração puro, a graça e o poder de Deus se revelam sobre sua vida e, assim, o Senhor age em favor dos seus fazendo a parte Dele na manutenção do casamento (Sl 9:9-10). Se cada um fizer a sua parte, viverão os dois em paz e harmonia, em altos e baixos, mas no amor. Mesmo assim, isso não os livra de cometerem falhas e de terem dificuldades e aflições, pois isso é inerente ao ser humano. Porém, segundo Fl 2:13, deve-se ter sempre em mente que é preciso aprender a depender de Deus, pois este é o desejo do coração do Pai para seus filhos. Porém, aprender esta lição não é algo fácil, mas as esperanças se renovam mesmo durante as crises que afligem os casais, pois a vontade de Deus sempre é que se mantenha o casamento. As crises vêm e vão, mas vale a pena tentar para então sentir o gosto da vitória por ultrapassar as dificuldades e usufruir de um casamento transformado por Deus.